Dos vários modos que existem para aprender a viver melhor, um dos que mais aprecio é a escrita. Para escrever, é preciso pensar. Para escrever bem, é preciso pensar bem. Escrever ajuda a elaborar o raciocínio, a sublimar emoções, a organizar o mundo. A escrita tem funções que muita gente não imagina; é útil nas situações mais diversas e inusuais. A humanidade faz isso há séculos: para espantar seus fantasmas, ela escreve.
Mario Sergio Cortella, na coleção O que a vida me ensinou (Editora Versar e Editora Saraiva)
¹Título do segundo capítulo do livro O que a vida me ensinou - Viver em paz para morrer em paz (paixão, sentido e felicidade), de Mario Sergio Cortella.
A passagem desse livro delicioso me lembra um texto que escrevi no final do ano de 2010, e lendo ele de novo parece que foi ontem que o escrevi. Talvez um pouquinho seria diferente, mas continuo gostando de clichês, então aí vai:
Divagações de final de ano - o clichê
Nunca gostei desse tipo de texto, mas ele brotou a despeito da minha vontade. E essas coisas a gente respeita, né.
Que
a presunção da razão e a idiotice da objetividade, inerentes a qualquer
pseudopensante como eu, não sufoquem meus ideais verdes e embaçados,
meus arroubos românticos, nem meu gosto por clichês. Afinal, parece que
fomos além das expectativas de Nelson Rodrigues e o número de idiotas
da objetividade extrapolou os 100 milhões (não falo apenas de
jornalistas ou pessoas do ramo, dica).
Que meus cânones sejam eleitos
por sua carga de estrago, de incômodo e de inquietação, muito mais que
pela intelectual ou formal. Afinal, quando o assunto é arte, a teoria
pode ser um pé no saco que eu não tenho, e o ridículo (como a forma
desse texto) pode ter o seu valor.
Que
a cada decepção ou frustração eu continue jurando nunca mais acreditar
em nada, mas que depois desses desânimos eu volte a enxergar a beleza
das (im)possibilidades, nem que seja por 2 segundos. Afinal, tudo o que
sempre me atraiu tem certo parentesco com o impossível: o difícil, o
distante, o abstrato, o subjetivo, o diferente, o que não existe.
Que
a cada parte de mim que for amputada ou morrer um pouco por alguma
daquelas decepções ali de cima, outra melhor possa crescer, mais forte, e
principalmente diversa da que se encontrava apodrecida. Afinal, coisas
podres são ótimos adubos.
Que
meus momentos ostráceos sejam ligeiramente compreendidos pelos que me
cercam, mas que eu também permita um pouco mais as pessoas no meu
mundinho, principalmente se elas continuarem sendo as mais intensas,
interessantes, sensíveis, malucas, exageradas e humanas. Afinal, a
apatia e o equilíbrio – por mais necessário que esse último seja – me
aborrecem bastante, e em se tratando de sentimentos, que fique claro:
exagero é o que se tem depois da intensidade legítima, e o que se tem
antes é descaso, é pouco e não me serve.
Que
os pequenos gestos daqueles que me são caros, as inspirações meteóricas
e as discussões fervorosas continuem iluminando o meu sorriso,
estimulando meu espírito, e principalmente reavivando as borboletas
narcolépticas que povoam as minhas entranhas. Mesmo que elas pareçam
mortas às vezes, basta um ventinho diferente para reerguê-las. Afinal,
por mais que o pouco não me sirva, há maneiras de fazer com que ele seja
muito.
Que
as barreiras que construí ou foram construídas em mim sejam transpostas
ao invés de derrubadas, e que escrever continue sendo a melhor forma de
acalmar meus fantasmas e esquisitices de temperamento. Afinal,
expurga-los todos seria acabar com um pedaço importante de mim: o pedaço
que chora, que se sufoca, mas que sente.