segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Despedidas

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Não faz muito tempo que me enviaram um texto sobre a hora de parar que terminava com a seguinte frase: “Porque a gente precisa saber a hora de parar, porque a hora nunca para de passar”.
O texto é bacaninha, apesar do final bobinho – que inclusive lembra muito as coisas bobas que eu escrevo. Fala sobre como temos que saber a hora de parar e começar várias coisas ao longo do dia, da vida, etc. Mas e daí? Calma que logo faz sentido (ou não).

Coração não é nada pragmático, e lá no seu fundinho sempre vai viver iludido de que o que tem dentro dele é o bastante. Por isso quando dois corações se separam por um motivo desses, que lhes são estranhos, todos os encontros viram êxtase, e ao mesmo tempo, despedida. 
Despedida por não saber quando, se, nem como será o próximo encontro. Êxtase por ver, por ter ali, por querer, por sentir saudades e todas as coisas que se sente quando se reencontra um amor perdido ou abandonado, tudo elevado à milésima potência, com a intensidade que só as despedidas permitem. 
Mas despedida dói, e chega um momento em que você tem que escolher entre viver se despedindo, viver perdendo o que você mais quer, ou encontrar uma forma de não ter mais que fazer isso, seja evitando os encontros, ou fazendo com que eles sejam definitivos, dentro do possível. 
E quando parece cedo demais para evitar os encontros, e você simplesmente não consegue achar uma solução para que eles sejam saudáveis e "definitivos"? Você foge? Bebe? Morre? Morre de beber? Espera a intervenção divina como se você realmente acreditasse nessas coisas? Sai correndo pelado cantando Sidney Magal? Ou inventa eufemismos que envolvem nudez e música brega para não dizer com todas as letras algo realmente idiota?

Eu escrevo, e mesmo sem perceber, eu tento, porque um outro problema dos corações metafóricos é que eles não sabem muito bem a hora de parar.




...O ralo que antes levava todas as preocupações passou a escoar a cada dia um pouco mais da esperança de sermos dois ali de novo. O embaçado do mormaço se confundia com o dos olhos e a água já fervia a pele, mas faltava o calor do nosso corpo ali debaixo. Faltava até mesmo o toque das nossas mãos geladas em dias frios, dos abraços encaixe perfeito nas horas de saudade, que era tanta, tanta... Faltavam duas mãos e uma boca, arrancadas do meu corpo quando ele se separou do seu.
Ecoavam pelas paredes brancas os soluços, o desespero ao invés das risadas, dos gemidos. As pernas e todo o resto do corpo bambo que antes sustentavam o prazer, dessa vez tremiam para sustentar a dor de um meio corpo sem vontade de nada. Um corpo que só é inteiro quando tem o seu por perto. Quando no tempo e no espaço de um beijo podemos ser, de novo, dois.

domingo, 26 de junho de 2011

Descaminhar

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Quando um descaminho acha o seu desvio tudo se alivia - Marisa Monte/Arnaldo Antunes

Desconfiei que todo o sentido do meu descaminho
rumo e significado
andasse escondido no silêncio tímido e confortável
do não vivido não escrito não falado
Na minha palavra pouca
Na minha vontade rouca
No meu sorriso forçado

Desconfiei que o meu silêncio quebrado
pacífico e justificável
andasse engolindo escondido certos sapos:
Não-quisto, Não-sentido e Não-pensado.

Mas descaminho não tem rumo,
o desvio alivia seu significado
Enquanto os sapos não digeridos coaxam
Quebrando o meu silêncio quebrado

___


Desvario fruto de um domingão típico de fim de período, com mil tarefas acadêmicas e domésticas por fazer. E excesso de Marisa Monte, é claro.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Um verso e meio

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Parece que me perdi daquela vida que era tão minha,
e quase, um quase quase certo, desaprendi a ser sozinha.

Mas há ainda o tempo, maestro da vida e senhor da morte,
Que reedifica os escombros de um coração que já foi forte
Mas quem se importa? Nem o tempo deus de Caetano é perfeito:
Que agora e sempre tudo transcorra no meu tempo, do meu jeito.


Observação: Não preciso explicar que não consegui terminar, né? Por enquanto fica desse jeito mesmo...



Outra observação: Aos desavisados, cabe colocar um poeminha aqui:

Autopsicografia - Fernando Pessoa

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração."

quarta-feira, 27 de abril de 2011

No meu disco voador

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Sinto falta de encontros de verdade.
É que às vezes bate uma preguiça louca de ter que trajar essa minha pele tão desconfortável e desajustada, máscara do assustador e delicioso desnudamento mútuo que raramente acontece, por dentro, nos encontros de verdade.

Deixar ver o íntimo pode ser como dividir o lanche no recreio, ou ainda o curioso 'mostra o seu que eu mostro meu', porque, nesse caso, a esperança pela reciprocidade gera a concessão.
Também não se deve se vestir assim de alma para qualquer um. É coisa íntima demais, e além de afinidade, tem que ter cosmicidade.
O contato entre duas almas nuas é o melhor recurso que a memória tem para manter as pessoas conectadas.
Mas, geralmente, depois de um encontro assim, cada um segue a seu modo, a seu tempo, no seu caminho - vez ou outra se cruzam, por acaso (ou não) como todos os outros encontros dessa vida.



(música mais linda mundo, hino eterno dos desajustados)

domingo, 13 de março de 2011

(Temporary) Happy Ending

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Eu não costumo procurar videos, tanto que os que posto aqui são apenas pela música em si.
Acontece que por acaso (como quase sempre) encontrei esse video de As Life Found You, do alemão Tim Neuhaus, e graças a minha fascinação por coisas lindas e simples, me senti na obrigação de recomendar.

Um cômodo com paredes brancas, 5 atores gracinhas, papelão e uma ideia muito bacana.
Pode parecer ridículo, mas me fez chorar, e olha que a TPM ainda tá looonge, viu...



O álbum The Cabinet saiu em janeiro desse ano, mas ainda não ouvi direito pra opinar.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Por querer entender demais

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Dormiram juntos na noite anterior, como já era costume. Criaram em pouquíssimo tempo e tão despretenciosamente uma intimidade que poucos casais conhecem, e nem eram exatamente um casal. 
Eram? Gostavam-se, porém sabiam-se imersos em uma realidade cuja data de validade expiraria em poucos dias.


_ Um doce pelos seus pensamentos...
_ Taí uma coisa que ninguém nunca vai comprar.


Nutriam sentimentos diferentes pela humanidade que todos carregam, mas eram cientes dela. Discutiam-na, detestavam-na, ou acabavam rindo e, vez ou outra, encantando-se.
Aliás, buscavam estar cientes de tantas coisas que talvez pecassem justamente por querer saber e entender demais.
Aquela poderia ser a última noite que passariam juntos, e mesmo se não fosse, simbolizava o fim de um ciclo para ambos. Sabiam que dali em diante seria tudo diferente, mas seus corações impacientes e já calejados de outras paixões e vivências ansiavam que não fosse.


Obviamente, foi.



(De volta mais uma vez, depois de um século sem internet. Sem musiquinha hoje.)



terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Janeiro! - Decemberists e Sleeping At Last

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Seria uma coincidência engraçadinha duas das músicas que mais mexeram comigo nos últimos dias terem "January" no título, sendo que estamos em janeiro e ambas chegaram aos meus ouvidos de forma totalmente aleatória.
Seria, SE elas não fizessem parte de um álbum que está para ser lançado esse mês ainda e um EP fresquíssimo.

A primeira lindeza, do álbum The King Is Dead (Jan 2011):




E a segunda, do EP da série Yearbook, January:





Ai que meu coraçãozinho não aguenta!